Vinte e seis de junho é o dia internacional de combate às drogas.
Os vários e recentes estudos acerca do tema, que não sai da pauta da
sociedade civil e de organizações governamentais do mundo inteiro,
sugerem novos olhares sobre o problema e abordagens que projetam êxitos
maiores que os obtidos até então, focalizando, principalmente, o público
jovem.
Segundo dados do Relatório Brasileiro sobre Drogas,
publicado em 2010 pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas,
74,6% dos brasileiros consumiram bebida alcoólica no ano de 2005. O
percentual foi de 44% para o tabaco e 22,8% para outras drogas. Da
população investigada, 12,3% se disseram dependentes de álcool, 10,1% de
tabaco e 2% de outras drogas. A pesquisa ouviu pessoas de 12 a 65 anos
nas mais de cem cidades brasileiras com população superiora 200 mil
habitantes segundo o Censo 2000.
O mesmo estudo apresenta
levantamento feito em 2004 entre estudantes de ensino fundamental e
médio da rede pública nas 27 capitais brasileiras: no mês em que
responderam ao questionário, 44,3% dos entrevistados haviam consumido
álcool, 10%, tabaco, 10%, solventes, 3,2%, maconha, 1,3%, cocaína, e
meio por cento, crack.
O livro Retratos da Juventude Brasileira,
organizado por Helena Abramo e Pedro Branco (Editora Fundação Perseu
Abramo), que analisou a pesquisa Perfil da Juventude Brasileira,feita
pelo Instituto Cidadania, informa que 70% dos jovens de 13 a 24 anos que
admitiram já ter consumido ou consumir habitualmente bebida alcoólica
começaram antes dos 18 anos, número que se repete para o primeiro
contato com o cigarro. Quanto à maconha, 80% dos que já usaram afirmam
que a primeira vez se deu até os 18 anos.
A dimensão que o álcool e
o tabaco representam nesse cenário deixa claro que uma discussão
honesta sobre o tema tem, necessariamente, de quebrar o tabu que separa
drogas lícitas de ilícitas, vencendo a hipócrita condescendência com que
a moralidade de mercado trata as primeiras. Até porque há estudos
científicos que mostram que a bebida e o cigarro, vendidos livremente
pelas ruas, são mais agressivos para o organismo que algumas substâncias
proibidas.
Isso é necessário tanto para concentrar mais
fortemente as ações preventivas naquilo que, quantitativa e
qualitativamente, tem sido o problema mais grave, quanto para repensar o
usuário de tóxicos ilegais. Se o Ministério da Saúde
adverte que fumar é prejudicial (e é, e muito!) e se sabe-se que a
chance de morrer pelo cigarro (uma em três) é maior que a chance de
morrer brincando de roleta russa (uma em seis), por que tolera-se a
indústria tabagista e suas intermináveis formas de anular as campanhas
antifumo? Se o consumo de álcool é fator de peso em problemas sociais de
toda ordem (de mortes no trânsito a violência doméstica), como
permite-se que a Ambev seja uma das principais financiadoras das
emissoras privadas de TV, por meio da publicidade, inclusive, no horário
nobre? Flagrante a incoerência.
Ao mesmo tempo, é preciso um
olhar mais solidário para o consumidor de psicotrópicos ilegais,
reorientando-se e ampliando-se as políticas públicas voltadas a ele e
apoiando-se as iniciativas da sociedade civil voltadas à recuperação do
viciado. A política de guerra às drogas marginaliza o usuário, não lhe
oferece caminhos para superar a dependência e serve de tapete debaixo do
qual tentam-se esconder a corrupção e violência policiais, sem que se
obtenham êxitos significativos no enfrentamento ao narcotráfico. Segundo
o Departamento Penitenciário Nacional, um em cada quatro presidiários
no Brasil está detido por tráfico de drogas. E, entre 2005 e 2011,
enquanto a população carcerária aumentou 1,7 vez, o número de presos por
tráfico cresceu quase quatro vezes (de 23 mil para 125 mil).
Sucesso
do combate ao tráfico, já que a nova lei de tóxicos, de 2006, aboliu a
prisão para o usuário? De forma nenhuma. O que acontece é que o usuário –
evidentemente o usuário pobre, da periferia, da favela – está sendo
preso como traficante, em razão de uma lei que elencou um número
exorbitante de ações como “tráfico” e sequer estabeleceu a quantidade de
drogas considerada para consumo próprio. Ao mesmo tempo, as ações
antidrogas espalham o terror policial nas comunidades pobres e são
usadas para encobrir abuso de autoridade e violaçãode direitos humanos
cometidos por agentes do Estado.
Por último, é bastante útil a
informação de que o contato com drogas – lícitas e ilícitas – acontece,
pela primeira vez, durante a adolescência. Isso mostra que a melhor ação
de prevenção se dá no âmbito das relações familiares. É enquanto está
em casa que o jovem se depara com essa questão. E é nesse ambiente que
uma discussão honesta e orientações sensatas sobre o assunto vão se
mostrar mais eficazes que a ação policial-judiciária e mais felizes que
as políticas de saúde pública. Drogas também são assunto de família!
“Todos
os estudos já realizados mostram que, se houver um bom diálogo entre
pais e filhos acerca do uso de drogas e de bebidas alcoólicas, os filhos
estarão muito menos suscetíveis a experimentar essas substâncias”,
afirmam Jim Burns e Stephen Arteburn, autores de Como Falar de Drogas em Casa, livro que a Editora Universidade da Família apresenta como a boa novidade deste dia 26 de junho.
Por: Paulo Henrique Barbosa - O autor é advogado e colaborados da Universidade da Família.
Fonte: http://www.udf.org.br/artigos/drogas-assunto-de-familia/
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